domingo, 19 de outubro de 2008

UMA BATALHA NO CÉU




- Doutor o senhor acredita em anjos?

- Acredito.

- Em anjo da guarda também?

- Também.

- Então me responda: onde estava o anjo da guarda do meu filho quando ele morreu em um acidente de trânsito?

- Boa pergunta.

- Será que ele não conseguiu chegar a tempo?

- É possível, o céu anda meio congestionado.

- Mas ele podia ter planejado o socorro com antecedência e chegado antes do meu filho no local.

- Se ele soubesse a hora.

- E não sabia?

- Só Deus sabe a nossa hora.

- Não é a Morte que agenda o nosso dia?

- Ela é apenas uma alegoria.

- Deus queria que o meu filho morresse?

- Pergunta pra ele.

- Eu nunca mais poderei vê-lo?

- Poderá.

- Quando?

- A senhora pensa que ele está no Céu?

- Claro.

- Então espere ansiosamente pela sua hora.

- Até lá já terei morrido de saudades.

- Se a senhora estiver com muita pressa pode comprar uma passagem para o Céu.

- Chega rápido?

- Rapidíssimo.

- Onde compro?

- No aeroporto.

- Eu quero puxar a orelha daquele anjo da guarda.

- Não faça isso. Ele não merece.

- Ele foi muito irresponsável.

- Não foi não.

- Então me diga: onde estava ele quando o meu filho se acidentou no trânsito?

- Com certeza ele estava lá.

- Mas não fez nada.

- Isso não é verdade.

- De qualquer maneira, é um incompetente.

- Não seja ingrata. Ele fez tudo o que podia.

- Eu não consigo entender.

- Seu filho vale ouro.

- Houve concorrência?

- O anjo dele lutou muito.

- Faz sentido. Rasgaram o meu filho ao meio. Pobrezinho.

- Sinto muito.

- Também me acidentei. Meu anjo me livrou da morte.

- Uns ganham, outros perdem.

- Vai ficar no empate pra sempre?

- Não, claro que não. Tem que esperar o final do campeonato para saber o vencedor.


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