- Doutor o senhor acredita em anjos?
- Acredito.
- Em anjo da guarda também?
- Também.
- Então me responda: onde estava o anjo da guarda do meu filho quando ele morreu em um acidente de trânsito?
- Boa pergunta.
- Será que ele não conseguiu chegar a tempo?
- É possível, o céu anda meio congestionado.
- Mas ele podia ter planejado o socorro com antecedência e chegado antes do meu filho no local.
- Se ele soubesse a hora.
- E não sabia?
- Só Deus sabe a nossa hora.
- Não é a Morte que agenda o nosso dia?
- Ela é apenas uma alegoria.
- Deus queria que o meu filho morresse?
- Pergunta pra ele.
- Eu nunca mais poderei vê-lo?
- Poderá.
- Quando?
- A senhora pensa que ele está no Céu?
- Claro.
- Então espere ansiosamente pela sua hora.
- Até lá já terei morrido de saudades.
- Se a senhora estiver com muita pressa pode comprar uma passagem para o Céu.
- Chega rápido?
- Rapidíssimo.
- Onde compro?
- No aeroporto.
- Eu quero puxar a orelha daquele anjo da guarda.
- Não faça isso. Ele não merece.
- Ele foi muito irresponsável.
- Não foi não.
- Então me diga: onde estava ele quando o meu filho se acidentou no trânsito?
- Com certeza ele estava lá.
- Mas não fez nada.
- Isso não é verdade.
- De qualquer maneira, é um incompetente.
- Não seja ingrata. Ele fez tudo o que podia.
- Eu não consigo entender.
- Seu filho vale ouro.
- Houve concorrência?
- O anjo dele lutou muito.
- Faz sentido. Rasgaram o meu filho ao meio. Pobrezinho.
- Sinto muito.
- Também me acidentei. Meu anjo me livrou da morte.
- Uns ganham, outros perdem.
- Vai ficar no empate pra sempre?
- Não, claro que não. Tem que esperar o final do campeonato para saber o vencedor.
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