- Tu pareces bastante abatido, o que está te incomodando?
- Ah, é uma parada aí.
- Que parada?
- Eu vi a minha namorada beijando outra guria.
- E aí?
- O senhor acha que ela gosta de mulher?
- Não, não te preocupa. Ela só faz isso pra se aparecer. Está na moda. Ela só não beija a parede porque iria parecer louca.
- E se fosse a tua filha?
- Se fosse a minha filha eu ralhava com ela: “Quer te aparecer vai desfilar na passarela”.
- Então é só para se aparecer?
- Sim.
- Mas eu me senti traído.
- Desencana.
- E se fosse a tua mulher?
- A minha mulher não tem necessidade de se aparecer.
- Ela já te traiu?
- Não sei nem quero saber.
- Mas deve ter alguém a fim dela.
- Quem? Tu?
- Na-na-não, e-eu não.
- Escuta aqui ô guri, de onde tu conheces a minha mulher?
- E-eu na-não co-conhe-nheço a tu-tua mu-mulher.
- Deixa de ser covarde piá, não vai acontecer nada contigo se tu falares, agora se tu não falares...
- Da Escola Técnica. Ela é minha professora.
- Ela está te dando bola?
- Acho que sim.
- Que ela fez pra tu achares que ela está te dando bola?
- Ela me deu uma nota erótica.
- Que nota ela te deu?
- Sessenta e nove.
- Setenta menos um. Ela costuma descontar um décimo de quem faz bagunça em sala de aula.
- Eu não faço bagunça.
- Alguém mais recebeu essa nota?
- Não, só eu.
- E o que tu fizeste?
- Nada.
- Que tu pretendes fazer?
- Absolutamente nada.
- Sabe de uma coisa? Eu sempre achei que a minha mulher devia ficar em casa cuidando dos filhos, agora está na hora de pôr em prática.
- Quer dizer que eu não vou mais ver a minha musa?
- Por precaução.
- Tu é bem machista mesmo.
- Tu me respeita ô chifrudo. Vai, vai.
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