- Sente-se por favor.
- Ai! Minha coluna! Maldito bico-de- papagaio!
- Encoste bem atrás. Isso mesmo. Melhorou?
- Assim está melhor. Obrigado.
- Por certo o senhor teria muito mais a me ensinar pela sua experiência de vida, mas estou à sua disposição.
- Oh! Quanta educação! Não desperdice o seu tempo com tanta etiqueta. Eu vim aqui porque tenho me sentido um pouco deprimido.
- Desde quando?
- Desde que me mudei para a casa da minha filha aqui na capital.
- Onde o senhor morava antes?
- Veranópolis. Eu, infelizmente, tive que deixar a minha cidade natal porque já não tenho idade para morar sozinho.
- Veranópolis! A terra da longevidade! A propósito, o senhor sabia que é de lá que veio a expressão “E aí meu velho?”.
- Brincadeira tua.
- O senhor tinha amigos lá?
- Sim, eu tenho ainda alguns amigos em Veranópolis, os últimos que restaram.
- Quantos anos o senhor tem?
- Cento e cinco.
- O senhor tem boa saúde?
- Eu estou ótimo. É só o bico-de-papagaio que me incomoda mesmo.
- O senhor recebe atenção da sua família?
- Na medida do possível.
- Como assim?
- Minha filha e o meu genro estão sempre muito ocupados com o trabalho e os filhos, mas me levam para passear aos domingos no Cisne Branco. A minha diversão tem sido jogar video game com o meu neto de cinco anos. Ele sempre me ganha.
- Que deprimente! Por que o senhor não joga xadrez com pessoas da sua idade?
- O senhor vê, não há muita gente nessa cidade com quem eu possa me relacionar, são todos muito jovens. Sabe de alguém?
- Tem um grupo que joga xadrez em umas mesas no Parque da Redenção e também bocha se a sua coluna permitir.
- Ótimo.
- E tem um clube do Bolinha de cabelo branco, que se encontra na Rua da Praia, nos arredores da Praça da Alfândega, todos os dias por volta das dez horas da manhã. Fazem uma rodinha perto da farmácia. Eu tenho muita curiosidade de saber o que eles falam. Por favor vai lá e depois vem aqui me contar.
- Vou correndo, agora.
- Cuidado com a sua coluna senhor!
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