terça-feira, 21 de outubro de 2008

TEORIA DO TRATAMENTO




Na tentativa de entender as pessoas elaborei a teoria do tratamento. Já dizia Freud: O objetivo da psicanálise não é salvar o mundo. Será que era salvar a si próprio então? Deixa pra lá. Vamos à teoria mencionada. Lembrando que nem sempre a realidade corresponde à teoria.

Examinemos o caso 1: Se você trata o sujeito bem ele o trata bem, se você trata o sujeito mal ele também o trata bem.

Hipótese I: O sujeito é cristão. Tem que virar a outra face pra bater (caso já tenham batido na primeira). Está escrito! Acontece que ele nunca dá a primeira pra bater. Ao contrário. Ao menor desentendimento ele já saca a arma. Assim são os religiosos. Sanguinários intolerantes. Você é herege? Está morto!

Hipótese II: O sujeito quer te levar pra cama. Ele engole todos os sapos com o pensamento fixo em seu objetivo. Finalmente, a vitória. Pode parecer que a estratégia funcionou. E de fato funcionou. Mas foi um tanto idiota essa atitude. Você terá certeza disso quando, após a vitória, ele vomitar todos os sapos que engoliu em cima de você.

Hipótese III: O sujeito é um cínico formal. Trata todos os seus afetos e desafetos com gentileza. Da boca pra fora. No fundo ele te despreza. Pior que há lugares em que esse comportamento é quase uma obrigação social. Na França, por exemplo. Experimente não dar Bon Jour. Passará por mal educado.

O caso 2 é igualmente interessante: Se você trata o sujeito bem ele o trata bem, se você trata o sujeito mal ele o trata mal.

Hipótese I: O sujeito é humano. Por isso reage como humano, com sentimentos. Se você o ofende ele não esconde o seu ressentimento. Descarregue nele e ele descarregará em você. Ele acha muito ruim levar uma montanha de mágoas pra casa no fim do dia.

Hipótese II: O sujeito é do tipo que pensa: quem fala o que quer ouve o que não quer. Resolve tudo na hora. Sem tapa. Na boa. Dele dizem: é bem resolvido. Hoje em dia falou bobagem toma processo. Tem mulher que ouve gracinha de colega de trabalho no bebedouro e já entra com processo. Será sede de dinheiro? Seja o que for. Mulher que se preze tem que saber levar cantada. Até de pedreiro.

Hipótese III: O sujeito é esperto. Ele sabe que se ele tratar bem as pessoas sempre, elas o tratarão como quiserem. Sabendo disso impõe limites. É meio como lidar com criança. Tem que dar palmada na bunda pra não aprontar de novo. Com criança funciona. Com adulto às vezes.

Passemos ao caso 3: Se você trata o sujeito bem ele o trata mal, se você trata o sujeito mal ele o trata bem.

Hipótese I: O indivíduo é masoquista. Nesse caso trate-o sempre mal e ele adorará você. Algumas mulheres até se apaixonam por indivíduos assim. E pensam que eles gostam delas. Ele me maltrata mas ele me ama. Falso.

Hipótese II: O sujeito é auto-destrutivo. Ele próprio se maltrata e não aceita que alguém trate-o bem. Por isso se você tratá-lo bem ele se desgostará e o tratará mal. Experimente convidá-lo para uma sessão de tortura. Ele vai se amarrar.

Hipótese III: O sujeito é imaturo. Ele ainda não aprendeu como funciona o relacionamento humano. Provavelmente não foi muito amado pela família e por isso pensa que não é digno de ser bem tratado. Reage mal aos que o tratam bem pois não está acostumado a isso.

Por último analisemos o caso 4: Se você trata o sujeito bem ele o trata mal, se você trata o sujeito mal ele também o trata mal.

Hipótese I: O sujeito é sádico. E como as pessoas não apreciam muito a sua companhia, ele costuma levar as suas vítimas para um castelo abandonado, com um chicote escondido no porta-malas.

Hipótese II: O sujeito é mau. Com certeza ele é um indivíduo muito infeliz. Dizem que até o diabo quando está feliz é bom. Não leve a sério. É só por força de expressão.

Hipótese III: O sujeito é insano. Neste caso tente conduzí-lo a um especialista. Mas não espere que ele vá concordar. Não vai. Chame-o de doido. Ele não só rejeitará o título como apontará as suas doideras. Porque de perto ninguém é normal. Porque ele é doido mas não é burro. Se você puder caia fora. Caso contrário procure você um especialista.

Uma dica para lidar com sujeitos insanos é o provérbio “Para maluco maluco e meio”. A locução adverte que quando um indivíduo é exaltado e procura vencer pela intimidação não valem argumentos persuasivos. É necessário enfrentá-lo com uma veemência ainda maior, revelando destemor, desprezando ameaças e fazendo-as mais violentas. O mesmo provérbio existe com essa forma: “Remédio de doido é doido e meio”.

Nem sabe. Mudou a minha vida. Já não me aborreço mais tentando discutir logicamente com qualquer sujeito. Nem a lógica, nem a retórica, nem a dialética, as artes da eloqüência e da persuasão. Tente inconfundir a cabeça do seu interlocutor. Como você não vai conseguir convencê-lo de nada mesmo, pelo menos vai se divertir um pouco.


CANCELAMENTO DE CONTA




- Alô.

- Alô. Eu quero cancelar a minha conta.

- Por quê?

- Porque vocês me roubaram.

- Do que a senhora está falando?

- Desse monte de taxas que vocês me descontaram.

- Nós podemos explicar que taxas são essas.

- Não me interessa. E o juro também é muito alto.

- Nós podemos baixar o juro para a senhora.

- E por que já não baixaram desde o início?

- Porque a senhora não pediu.

- Pra quanto?

- Pra nove por cento.

- Ao ano?

- Não, ao mês.

- Não quero.

- Há alguma coisa que o banco possa fazer pela senhora?

- Não. Devia ter feito na hora certa. Agora é tarde.

- Mas nós ligamos pra a senhora quando o seu saldo ficou devedor.

- Sim, os juros comeram todo o meu saldo credor.

- O banco gostaria muito que a senhora continuasse conosco porque a senhora é muito importante pra nós.

- Você quer dizer que a minha conta é muito importante pra vocês, né?

- Há várias propostas que nós podemos fazer pra a senhora ficar conosco.

- Obrigada. Eu já tenho um banco.

- Nós podemos isentar a senhora da taxa de manutenção da conta por seis meses.

- Não quero. Eu já tenho um banco. E o meu é bom.

- Mas a senhora pode precisar de uma outra conta futuramente.

- Não adianta. É igual namorado. Se eu já tenho um, então não preciso de outro.

- Mas o outro candidato talvez seja mais atraente que o namorado da senhora.

- Quer fazer o favor de fechar essa conta duma vez?

- Calma senhora. Se o seu namorado não está dando conta do recado nós temos a solução. Empréstimo em folha, com juro fixo, para a senhora tirar férias no Caribe, e conhecer uns gatos que vão deixar a senhora bem relax.

- Eu vou processar esse banco. Espera só pra ver.

- Não faça isso senhora. A senhora é uma pobre coitada duma pessoa física sem advogado e nós temos os melhores advogados à disposição da nossa pessoa jurídica, é uma perda de tempo. Relaxe e goze, enquanto nós assaltamos a sua conta.

- Cretina.

- Cretina não minha senhora, retina. A senhora que está precisando fazer uso da sua retina para enxergar a realidade.

- Deixa assim, eu ligo mais tarde e falo com a outra atendente.

- A outra é pior ainda senhora, desista de fechar a sua conta. Nós vamos continuar roubando o seu rico dinheirinho por muito tempo ainda.

- Bruxa! Eu quero fechar essa conta agora!

- Ai, tá bom, tá bom, eu fecho, também não precisa ficar nervosinha.

A OLINA E O MOTO-BOY



- Alô, é da farmácia?

- É. O que deseja?

- Tem Olina?

- Tem. Da grande ou da pequena?

- Da pequena. É só pra agora.

- Vai tomar tudo de uma vez?

- Com gelo e limão.

- Tu é alcoólatra?

- Tô deixando.

- Bebendo caipira de Olina?

- Essa aí é só pra comemorar uma semana sem álcool.

- Por que não compra cerveja?

- Porque a família tá de olho em mim.

- Tão te vigiando é?

- 24 horas.

- E por que não vai no bar?

- Não dá meu, eles avisaram o barman pra não me vender.

- Tá legal, tô te mandando, mas é só dessa vez, viu?



- Oi, aqui que pediram uma Olina?

- Isso. Tu tem troco pra vinte?

- Não.

- E agora?

- Tu não avisou que ia precisar de troco.

- Faz seguinte, leva essa nota e já deixa pago mais uma Olina.

- Tu conhece o vendedor?

- Conheço. Depois eu ligo pra ele.

- Tchau.

- Tchau. Ei, volta aqui. Me dá a minha Olina.

- Cabeça a minha! É que eu tava pensando na carne que eu ia assar...

TRUQUES DE PASSAGEIRO




Maria dá uma nota de 50 reais pra o cobrador.

Cobrador: Não tem troco. Dá pra esperar um pouco?

Maria: Eu já vou descer.

Cobrador: Então desce pela frente.

Maria sempre usa esse truque para não pagar a passagem.





O ônibus pára no ponto escolar.

Cobrador: Só o passe, sem carteirinha, por favor. Subindo e passando. Subindo e passando.

Nick passa a roleta, bate a ficha na mesa do cobrador, mantém a mão em cima e depois guarda a ficha no bolso.

Seu colega Jack cochicha no ouvido dele.

Jack: Como você faz isso?

Nick: Engano o cobrador com o som da ficha batendo.

Jack: Mas ele não vê que tu recolhe?

Nick: Ele vê a do próximo que entrega em seguida.

Jack: Mas esse teu truque só funciona em dia de movimento, não é?

Nick: É.




Rodrigo está sentado no assento do corredor quando entra uma garota com uma mochila pesada.

Rodrigo: Quer que eu segure a mochila?

Garota: Sim. Por favor.

Cavalheirismo hoje em dia está resumido a segurar bolsa.




Cobrador: Um passinho à frente, faz favor.

O ônibus está lotado e as pessoas estão tentando passar pra o fundo. Felix, que está em pé no corredor, se segura no ferro e sobe no encosto do banco à sua frente, pra dar passagem atrás de si. Em seguida desce rapidamente com a destreza de um animal silvestre. Depois fica rindo sozinho.




Vitor está atrasado para uma festa. São só algumas quadras até o local da festa. Vitor pega o primeiro ônibus que passa no ponto.

Vitor: Este ônibus vai pra Praça 15 de novembro?

Cobrador: Não.

Vitor: Então vou descer na próxima.

Vitor usa esse truque pra ganhar tempo e dinheiro.


ODISSÉIA NO ÔNIBUS ESCOLAR




O motorista faz uma curva fechada para entrar no retorno.

Motorista: Segura aí pessoal que eu não me responsabilizo.

Catarina dirige-se à porta dos fundos para descer e fica muito irritada porque o motorista não pára no ponto de ônibus solicitado por ela.

Catarina: Só porque são estudantes pensa (o motorista) que são ignorantes.

Catarina desce na próximo ponto indignada prometendo ligar para o 0800 da companhia.

No final do ônibus Diego, que está acompanhado dos colegas, se manifesta, irônico.

Diego: Que idiota! Tu não estudas pra ficar mais burro.

Eliane se levanta pra descer. Nesse momento alguém aperta a campainha.

Eliane: Alô!

Eliane se dá conta que não é um telefone e ri sozinha.

Um ladrão encosta a arma na barriga do cobrador.

Ladrão: Passa tudo.

O cobrador tira um bloco de cédulas do bolso e entrega para o ladrão.

O ladrão pressiona e ameaça o cobrador.

Ladrão: Tudinho. Se não já era.

O cobrador ensacola as moedas e passa para o ladrão.

O ladrão começa a ficar nervoso.

Ladrão: Tá chegando a parada. Faltam os vales.

Cobrador: Só tem vale estudante.

Ladrão: Não interessa!

O cobrador reúne os vales e deposita tudo na mão do ladrão.

Cobrador: Leva. Tem vale pra uma faculdade inteira. Aproveita para estudar e vê se vira um cidadão decente.

O ladrão desce pela porta da frente e sai correndo.

O cobrador abre a janela do ônibus e grita pra o ladrão.

Cobrador: Delinqüente!

Um brigadiano à paisana desce pela porta dos fundos e atira no ladrão pelas costas. O ladrão cai estirado no chão gemendo.

O motorista pára o ônibus. O cobrador desce depressa e pisa nas costas do ladrão.

Cobrador: Me devolve tudo.

Ladrão: Deixa os passes. Eu vou estudar.

Cobrador: Ah, vai sim. Quero tudo. Tudinho.

Brigadiano: Se não já era.

Armindo desce do ônibus e nocauteia o ladrão.

Armindo: Pega essa grana duma vez e vamos embora que eu tenho horário marcado.

Cobrador: Tu matou o delinqüente?

Armindo: Olha o cara! Ficou com peninha.

Brigadiano: Não matou não. Volta pra o ônibus que eu cuido do bandido.

No fundo do ônibus Diego expressa a sua raiva.

Diego: Bandido bom é bandido morto.

Cobrador: Ele não está errado. Está apenas equivocado.

Armindo: Deve ser um desses órfãos do tráfico. Mas com certeza já tem uma mãe adotiva.

Riso geral.

Diego: Deixa o cara. Ele ficou com a Síndrome de Estocolmo.

Armindo: Aguda. Só faltou levar pra casa.

Cobrador: Silêncio! Caso encerrado!

Um idoso atravessa a rua na frente do ônibus.

O motorista freia bruscamente para não bater nele. O idoso se assusta com o ônibus, tem um treco e cai estirado no chão. O motorista pára o ônibus e vai verificar o estado do pedestre.

Jonathan se aproxima do local e pensa que o idoso está morto.

Jonathan: Tu matou o coitado. Não sei pra que correr tanto.

Motorista: Não matei. Ele apenas se assustou e caiu aí estirado.

Jonathan: Matou sim.

Cobrador: Em vez de ficar aí parado acusando o motorista chama uma ambulância pelo menos.

Armindo: Já estou atrasado meia hora.

Diego: É hoje o dia.

O idoso se recupera do susto, se levanta e sai andando.

Motorista: Falei que ele estava vivo.

Volta todo mundo pra o ônibus.

No fundão Diego e sua turma tagarelam.

Diego: Mulher só serve pra uma coisa.

Melissa: Eu sei cozinhar.

Diego: Então tu serve pra duas.

Melissa: E tu não serve pra nada.

NA ESCOLA DE NATAÇÃO



Aluno: Vou me matricular na raia livre.

Secretária: É necessário um atestado médico.

Aluno: Ah moça! Eu não trouxe. Mas eu fiz um eletrocardiograma ainda na semana passada e deu tudo normal.

Secretária: Eu lamento, mas infelizmente não é possível fazer a matrícula sem o atestado médico.

Aluno: O que vão fazer com ele? Nunca me pediram isso em nenhuma escola de natação.

Secretária: Vão consultá-lo caso você passe mal dentro da piscina.

Aluno: Olha moça, as chances de isso acontecer são mínimas. Eu nunca tive qualquer problema de saúde.

Secretária: Mas já aconteceu de alguém ter que ser retirado às pressas de dentro da piscina e não faz muito tempo.

Aluno: Eu me garanto. Já nadei em vários clubes conceituados sem causar qualquer transtorno.

Secretária: São normas da casa. Eu só cumpro ordens aqui.

Aluno: Ninguém vai ficar sabendo. Eu vou ficar bem quieto. Prometo.

Secretária: Assim que você trouxer o exame poderá se matricular.

Aluno: Mas eu estou muito a fim de nadar hoje ainda. Eu até trouxe a sunga, o óculos, a touca, a toalha, o chinelo, todo o kit piscina.

Secretária: Você pode me trazer o atestado dentro de uma semana?

Aluno: Posso. Posso.

Secretária: Então preencha esta ficha, por favor.

Aluno: E se eu tiver um piripaque na piscina?

VERSÕES DE FATOS




Esperto: Você viu que os ladrões deram pra roubar fio de cobre da beira das estradas?

Sabido: Pois é, o cobre é o terceiro metal mais valioso, só perde para a prata e o ouro. Sem contar as ligas metálicas, é claro.

Esperto: Nesse caso dá pra dizer literalmente que os ladrões passaram a mão nos cobres.

Sabido: Isso ainda vai dar muita dor de cabeça para a companhia estadual de energia elétrica, porque o Brasil não tem muitas reservas naturais de cobre. Porém há grande abundância de alumínio no solo brasileiro. Talvez seja uma alternativa.

Esperto: Mas não dissipa muita energia?

Sabido: Sim, os fios teriam que ter um diâmetro maior, o que aumentaria o seu peso. É um mero detalhe.

Esperto: Sabia que lá na minha cidade estourou um transformador na central de energia elétrica? Foi de madrugada, bem tarde. Cidade do interior, todo mundo religioso, pensaram que era o fim do mundo, ou um prenúncio deste. Ouvi dizer que clareou o céu todo. E o barulhão foi ensurdecedor. Eu não ouvi nada porque tenho sono de pedra, se não tivessem me contado nem teria ficado sabendo. Deram uma explicação fajuta para o ocorrido. Falha humana, óbvio. Mas me pareceu meio invencionice para acalmar os ânimos da população, que ficou horas sem energia elétrica.

Sabe que as pessoas não mentem, elas apenas contam historinhas fictícias. Nem tudo que a gente lê e ouve é literal. Eu fico impressionado que eu invento umas estórias, conto pra as pessoas e todo mundo acredita.

Sabido: Isso que você me contou agora é verdade, né?

Esperto: Ah! Você se ligou. Mas isso que eu lhe contei agora é verdade. É verdade. Pode crer.